6 de setembro de 2024 - Por Geórgia Eduarda Machado Reis, Diretora criativa da marca Georgia by Georgia, redatora publicitária e estudante de publicidade e propaganda.

A Semiótica e os Arquétipos no Branding de Luxo: como grandes marcas comunicam exclusividade e desejo com signos e símbolos

 O branding de luxo é uma das práticas mais sofisticadas do marketing. Cada detalhe – desde o design até a experiência de compra – é criado, especialmente, para comunicar valores de exclusividade, prestígio, status e desejo. Marcas de luxo não vendem produtos, elas vendem sonhos. Nesse contexto, a semiótica e os arquétipos são fundamentais.

 Semiótica é o estudo dos signos e símbolos da comunicação e como eles são utilizados para produzir significado. Através desse conhecimento, entendemos como as marcas criam uma significação profunda e emocional. Já os arquétipos são conceitos desenvolvidos por Carl Jung e explica os doze modelos universais de comportamento que moldam as nossas percepções e desejos. Com essas duas abordagens, as marcas de luxo constroem suas identidades e criam um poder que ressoa com os consumidores.

Semiótica e arquétipos: a base do branding de luxo

 Marcas de luxo – como Chanel, Louis Vuitton e Rolex – não vendem apenas produtos. Elas vendem um estilo de vida, uma história de tradição e, mais do que isso, uma promessa. Elas prometem status e exclusividade aos seus consumidores. Porém, para entendermos como essas marcas utilizam a semiótica e os arquétipos para produzir essa percepção, é preciso entender três níveis de significação: o signo, o significado e o referente.

 Quando falamos de signo no universo do luxo, estamos nos referindo ao logotipo, embalagem e, até mesmo, a loja física (ambiente). Por exemplo, o logo da Chanel, com duas letras “C” entrelaçadas, não é apenas um design bonito, mas um signo que representa elegância e exclusividade. Já o significado é o que o signo desperta na mente do consumidor, o conceito que ele acarreta. Então, em resumo e de uma forma didática, os signos são desenhados, especificamente, para evocar arquétipos específicos, criando, dessa forma, associações emocionais. O monograma “LV”, da Louis Vuitton, por exemplo, pode evocar o arquétipo do Explorador, que busca emanar a mensagem de liberdade, aventura e descobertas, porém, de uma forma sofisticada.

 Por fim, ao falarmos de “referente”, estamos falando da ideia que o signo propriamente representa (do objeto real). No branding de luxo, o referente, frequentemente, é o próprio produto, porém, ele também pode ser a tradição da marca – algo muito buscado e importante na definição de uma marca de luxo. A experiência que ela proporciona é construída para ativar certos arquétipos – previamente definidos – e, assim, criar um vínculo emocional com o usuário.

 Agora que você entendeu um pouco sobre esses três conceitos, vamos nos aprofundar um pouco mais nos arquétipos.

Arquétipos no Branding de Luxo

 Jung identificou arquétipos como padrões de comportamento e emoção que existem no inconsciente coletivo e influenciam nossas ações e decisões. No branding de luxo, os arquétipos moldam a identidade emocional da marca para criar uma narrativa (famoso storytelling) que ressoa com o público. Veja alguns arquétipos frequentemente utilizados por marcas de luxo:

1) O Explorador: está ligado ao desejo de liberdade e descoberta. Exemplo de marca que utiliza esse arquétipo: Louis Vuitton.

2) O Criador: está ligado à inovação, podendo estar conectado à expressão artística. Exemplos de marcas que utilizam esse arquétipo: Chanel e Hermès.

3) O Governante: está associado ao poder e à liderança. Exemplo de marca que utiliza esse arquétipo: Rolex.

4) O Inocente: está associado ao otimismo e aos sonhos. Exemplo de marca que utiliza esse arquétipo: Tiffany & Co.

Analisando marcas de luxo

Agora, vamos analisar como algumas marcas de luxo combinam a semiótica e os arquétipos para criar sua identidade e se comunicar com as pessoas.

  1. Chanel – O Criador

O excelente uso da semiótica na Chanel, permite que ela passe uma mensagem de elegância atemporal. Os dois “C” entrelaçados do monograma, é um signo que carrega o arquétipo do Criador e transmite a valorização da arte, da originalidade e da inovação.

  1. Louis Vuitton – O Explorador

O monograma LV é mais do que um simples logotipo. Ele é um símbolo de status, exclusividade e uma vida de quem gosta de explorar novos lugares. Esse é um signo que evoca a tradição da marca como uma fabricante de malas de viagem de luxo, remetendo à tradição e sugerindo um desejo de aventura e sofisticação. Nas campanhas, é possível observar cenários exóticos e viajantes cheios de glamour, o que reforça essa narrativa de tradição, luxo e descoberta.

  1. Rolex – O Governante

A Rolex utiliza o arquétipo do Governante para posicionar seus relógios como símbolos de poder, status e controle. A coroa, do logo, é um signo visual de realeza e liderança, o que sugere que o usuário de um Rolex é alguém que atingiu um nível de sucesso e domínio muito alto. A robustez no design dos produtos também é feita cuidadosamente para simbolizar controle, poder e excelência. Em resumo, a semiótica no branding da Rolex é o que transforma um objeto simples e funcional – relógio – em um símbolo de autoridade, sucesso, conquista e prestígio. É assim, associando o relógio às realizações pessoais e profissionais, que a Rolex reafirma a ideia de que usar um de seus relógios é mais do que marcar o tempo, mas afirmar o sucesso.

A experiência de marca

 Além dos elementos visuais, as marcas de luxo utilizam a semiótica e os arquétipos em toda a experiência do cliente. Desde o design da loja até a apresentação e entrega dos produtos. Cada detalhe é estrategicamente pensado para comunicar os valores da marca e ativar arquétipos específicos (que definem o perfil do consumidor de cada marca).

 Lojas como Gucci e Prada são projetadas para oferecer uma experiência extremamente sensorial e, assim, reforçar a ideia de exclusividade e tratamento diferenciado. O ato de compra se transforma em uma experiência emocional, única e significativa; simboliza uma conquista de um lugar muito elevado. Além disso, a estratégia de escassez – como é o caso da bolsa Birkin, da Hermès – que as marcas de luxo, geralmente, adotam, também produz um significado de exclusividade – justamente por vender essa ideia de “inalcançável”.

 Concluo dizendo que, no branding, a semiótica e os arquétipos são ferramentas essenciais que permitem às marcas comunicar de maneira eficaz e criar uma conexão emocional profunda com seus consumidores. Marcas de luxo bem-sucedidas são aquelas que conseguem aderir esses elementos e integrá-los na construção de uma narrativa ressonante.

 Ao integrar semiótica e arquétipos, essas marcas vendem sonhos, oferecendo a promessa de um mundo onde o extraordinário é a norma e cada compra é uma experiência única que reflete o estilo de vida, as aspirações e a identidade do consumidor.

 Compreender e utilizar esse conhecimento permite que as marcas de luxo não apenas comuniquem suas mensagens de forma mais eficaz e natural, mas também criem um vínculo emocional duradouro com o público, transformando-os em verdadeiros embaixadores da marca e defensores leais.

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