Inteligência Artificial e a Resiliência Intelectual
Até bem pouco tempo atrás, o que dominava o imaginário coletivo sobre o tema Inteligência Artificial eram coisas simples como robôs que aspirariam o pó da casa, ou lavariam a louça, cortariam a grama do pátio, ou também robôs que automatizariam todas as funções elétricas e eletrônicas de uma casa ou um escritório, ou mesmo que dirigiriam os carros por nós, entre tantas outras funções, digamos, mais mecanizadas. Mas, essa noção se relacionava mais com atividades repetitivas do que com funções inteligentes. Eram simplesmente máquinas ou softwares criados exatamente para resolver ou executar tarefas cotidianas que, em realidade, não precisariam realmente de um cérebro humano de plantão para que fossem executadas.
Embora as pessoas já estejam familiarizadas com esses tipos de máquinas, e mais ainda, também com outros tipos de softwares, como os largamente produtos utilizados para funções mais complexas, sejam cálculos sofisticados, funções de produção, distribuição e logística de produtos, entre tantas outras aplicações, tem-se agora a impressão de que ninguém estava realmente preparado para ferramentas altamente desenvolvidas, como o ChatGPT. Pois o ChatGPT e seus assemelhados finalmente chegaram, e vindos diretamente – não do passado, como se poderia esperar – mas, sim, do futuro. Já estava anunciado que as grandes novidades chegariam, mas ninguém estava realmente preparado. E como sempre acontece em grandes disrupturas tecnológicas, as mudanças são repentinas, muitas vezes violentas, e as consequências trazem embutidas em si muitas promessas, mas também muitas preocupações.
As promessas são muitas. Os ganhos em produtividades serão enormes em diversos campos profissionais, seja em engenharia, medicina, desenhos de plantas industriais ou mesmo artísticos, além de diagnósticos precisos em diversas áreas. Mas ao lado de todos esses benefícios, há problemas que parecem realmente sombrios, e esses se relacionam ao valor do trabalho humano. Diversas profissões – senão todas – serão, ou já estão sendo afetadas pelas IA. De repente, as pessoas estão sendo confrontadas com expressões técnicas que mal podem compreender: redes neurais, padrões de atividade, deep learning, códigos digitais, máquinas pensantes, computação quântica, stronger IA, algoritmos de diversos tipos, etc. Isso sem falar nos vários divulgadores pseudo científicos de grande popularidade, que mais contribuem para criar um cenário de confusão e pânico – ao lado das inevitáveis promessas de grandes vantagens de todo tipo para as pessoas e a economia como um todo.
Mas se desconsiderarmos os cenários mais catastróficos que gritam por aí, frutos de algumas fantasias cinematográficas, capazes de exterminar a humanidade inteira, sobram ainda muitas coisas com que as pessoas devem realisticamente se preocupar. Pois outro grande risco das novas tecnologias diz respeito à educação básica das pessoas, uma vez que as vantagens de obter respostas ou compor trabalhos escolares e universitários apenas apertando algumas teclas ou botões, logo cobrarão o seu preço. É como se uma criança aprendesse a usar uma calculadora antes mesmo de memorizar a tabuada, caso em que o jovem se formará como um mero repetidor de tarefas, mas sem a menor ideia do que se passa por trás dos problemas que pretende estar resolvendo.
Então, o que fazer, se você está entrando no mercado de trabalho, está nele, ou foi expulso dele por causa das novas tecnologias? E a única resposta é apostar na sua própria humanidade, na capacidade de estudar, ler, pesquisar, se desenvolver. Embora estejamos sendo atropelados pelo futuro, que chegou com toda força, não se pode esquecer do passado, da educação e da cultura tradicional. Se você se esquecer da matemática básica, da história comum da humanidade, da gramática e da literatura, sem falar da filosofia, que parece cada vez mais necessária, embora sempre muito desprezada, você ficará a mercê de respostas de máquinas que você não pode saber se estão certas ou erradas, nem porque estariam certas ou erradas. Os especialistas recomendam o investimento pessoal exatamente em educação, pensamento crítico, e no reforço de atitudes e habilidades de liderança, competências comportamentais, além da inevitável inteligência emocional. Enfim, com certeza a nossa resiliência intelectual se tornará cada vez mais relevante para não sermos engolidos pela tecnologia.